segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mapas mentais da realidade

As coisas, eventos, situações têm significados diferentes para diferentes pessoas.  Cada um de nós atribui um significado diferenciado para cada situação. Para alguns grupos ou comunidades, dois homens abraçados na rua tem um sentido ingênuo e fraternal; para outros grupos é algo inaceitável e para outros ainda é algo completamente natural, desprovido de motivo para ser  comentado. Da mesma forma, na idade média, dar seu filho bebê a uma ama para ser amamentado e cuidado até certa idade, morando em outra residência, era algo natural para famílias nobres. Tal atitude hoje seria inaceitável e talvez até compreendida como crime de abandono de incapaz.

A tais formas de ver o mundo, a tais representações, pode-se chamar de Mapas mentais da realidade. Encontrei menção a tal idéia em diversas áreas do conhecimento como a psicologia cognitiva, a teoria do processamento da informação, a neurolinguística, sociologia. Ainda que possua nomeclaturas diversas, a ideia da atribuição de significados diferenciados às experiências humanas está presente em todas elas. Seja pela formação cultural, familiar, pessoal, religiosa, o fato é que existem pessoas com mapas bastante diferenciados a respeito de um dado assunto. Da mesma forma, existem pessoas com mapas próximo, semelhantes.

Analogicamente pode-se deduzir que compreender alguém cujo mapa sobre determinado assunto ou situação será mais fácil e tranqüilo na medida em que o mapa da pessoa que compreende seja semelhante ao da pessoa compreendida. Por exemplo: você está em um bar, depois da praia, com amigos ou família, em pleno domingo de sol. A conversa está boa, a comida está boa.  Você está feliz. Aí chega aquele cara, também com sua família e amigos, também vindo da praia, que senta numa mesa do bar perto da rua por que coloca o som do seu carro no máximo, portas abertas. Algumas pessoas do bar podem achar ótimo. Que coisa legal aquela música alta e animada! Era o que faltava. Você e outros podem achar desrespeitoso, desagradável e irritante. Quem ele pensa que é para impor essa música para todos? Este é um exemplo bem claro de diferenças de mapas. Neste momento pode ser que você, leitor, esteja pensando: isto não é uma representação, é realmente falta de respeito e, em alguns municípios, vai contra a lei. Mas o que será que se passa na mente do animado vizinho de mesa? Uma infinidade de coisas que não poderemos precisar. Ele pode pensar: “Não estou nem aí para os outros. Estou feliz, quero ouvir minha música.”. Ou ele pode ainda ter a ideia de que “Todos nesta cidade, depois da praia, querem ouvir este tipo de música. Estou compartilhando a minha alegria para todos, pois este bar não tem música ao vivo tocando”. Não é possível saber o que ele pensa exatamente, se tem respeito por isso ou não. De fato, isso realmente importa pouco por que não se tem nenhum poder sobre ele. Apenas sobre sua própria reação.

Para este blog nos interessa a reação na qual a paz interior some, passa longe (se é que ela já esteve presente...). Aquela reação que envolve grande revolta, raiva e indignação provocadas pelo sentimento de desrespeito aos direitos do outro. O fato é que existem aí mapas muito distintos a respeito desta situação.

O esforço para substituir o entendimento sobre esta situação poderá ser o primeiro passo para vivê-la com menos sofrimento. Têm-se duas opções, no mínimo: olhar a situação com a revolta habitual, com toda a “razão” e verdade sobre o assunto ou entender que aquele outro ser humano (como eu mesmo) tem um entendimento diferente do meu a respeito da situação. Esta mudança envolve abrir mão do julgamento sobre o outro (“desrespeitoso, egoísta, ignorante!”) e passar a vê-lo com alguém com uma representação diferente da sua. Nem melhor nem pior.

É um exercício delicado e poderoso. Perseverança e boa vontade serão necessárias. Mas a compreensão é como uma luz que, ao iluminar pensamentos, liberta de emoções e reações que acabam trazendo mais dor e sofrimento que justiça e paz.

O outro é um ser humano como eu, com uma história, uma construção de vida, como eu. Tem um entendimento diferente do meu. Nossos mapas sobre convivência social (no exemplo acima) se apresentam muito distintos.

A partir deste entendimento sincero, trazido com boa vontade para o coração e para o centro de sua mente, de seus pensamentos, pode-se pensar na seguinte opção: considerando os diferentes mapas, criar pontes ou muralhas?

Este será o tema do próximo post. Boa semana para todos!

3 comentários:

  1. Anmigaaaaaaaaaaaaaa não consegui assinar não. Deu erro...

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  2. Muito interessante e elucidativo o texto.
    Costumo dizer que não podemos permitir que o outro roube nossa paz, pois é isso que acontece quando nos permitimos mudar nosso padrão de pensamento por causa de fatores externos que fogem ao nosso controle. Ninguém muda o outro!

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  3. "As coisas que queremos só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica." (Mahatma Gandhi)Parabéns pela iniciativa!bj

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